Ônibus atendendo passageiro em ponto do corredor da Av. Prof. Francisco Morato, zona oeste de SP.

Opinião: No transporte, Empatia é a Mãe do Acerto e do Conhecimento

Entender para atender é o termo que deve ser levado a sério por gestores públicos que insistem em retirar a exclusividade necessária dos ônibus em meio ao trânsito cada vez mais caótico.

No último dia 3 de Outubro, a cidade de Sorocaba, no interior do estado de São Paulo, com quase 800.000 habitantes, estava entre os destaques nos assuntos voltados ao transporte coletivo por ônibus.

Fugindo do cenário positivo que a cidade vem conquistando ao longo dos últimos anos com seus corredores BRT que tem sido destaque internacional pela sua eficiência e fluidez, Sistemas de Troncalização entre Bairros X Sub-centros e Região Central da Cidade por meio de seus principais Terminais, além das trocas de empresas operadoras sem grandes impactos à população, o prefeito da cidade anunciou uma decisão que vai na contramão de toda evolução conquistada recentemente.

Ônibus do sistema BRT da cidade de Sorocaba. Foto: Fábio Trindade.

Dias antes, o chefe do executivo da cidade anunciou através de suas redes sociais, com grande trunfo, a liberação da circulação de vans escolares e motos pelas faixas exclusivas do sistema BRT da cidade.

Mesmo com falas dedicadas a cautela e cuidado dos beneficiados em usar os espaços antes destinados exclusivamente aos ônibus que atendem grande parte da população, principalmente os bairros mais populosos, no primeiro dia, 2 acidentes foram registrados, nenhum deles envolvendo os ônibus do sistema.

A medida que por sua vez indica ser “eleitoreira” e assumidamente “sem conscientização e discussão necessária” promoveu diferentes opiniões entre moradores e frequentadores da cidade sobre a aceitação da nova proposta, que trás a única certeza de redução da agilidade do transporte coletivo por ônibus na cidade.

Mas o que os termos aplicados no título deste artigo tem haver com isso?

Para entender melhor é necessário partirmos do princípio das frequentes tomadas de decisões pelo país a fora que diariamente impacta de forma negativa o transporte coletivo por ônibus, lembrando aqui que é o responsável pela maioria dos deslocamentos dos Brasileiros. Tais medidas são notoriamente visíveis que são decididas sem nenhum embasamento técnico ou que exista avaliação dos impactos e riscos que trazem consigo.

Mas quem opta por impor determinadas questões, teria noção do que está fazendo? Parece que não!

As decisões que podem impactar o funcionamento de sistemas de transporte e consequentemente de quem faz uso destes serviços, requer um mínimo conhecimento sobre o tema e levar em conta, a possibilidade de impacto dos riscos que acompanham tais decisões.

O acerto das decisões, requer um mínimo conhecimento que dificilmente é encontrado no mundo político, reflexo da ausência de interesse pelo tema, complexidade da sistemática que envolve o mundo do transporte e pela falta de uso constante dos modais e até mesmo, negligenciar o entendimento de especialistas e de quem trabalha e usa o ônibus como seu principal meio de deslocamento.

Nem sempre é possível estar presente de forma constante e nem fazer o uso dos sistemas, mas a complexidade do “entender para atender” frase conhecida no ramo, é um dos maiores indicativos que estar presente no dia a dia do setor ou dar voz àqueles que estão ligados e fazem parte da rotina do mundo do ônibus.

No dicionário, Empatia é um substantivo feminino que indica:
1) Capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria; compreensão.

2) Aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende etc.; identificação.

3) [Psicologia] Identificação de um sujeito com outro; quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la.

Voltando a temática do título, podemos afirmar de forma resumida, que a Empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro, para que entenda seus pontos de vista e realidade entre temas, para quem não tem o convívio e experiência daquilo que suas decisões impactam, trás o aprendizado, conhecimento, diálogo e experiência necessária para reforçar as tomadas de decisões de forma assertiva, reduzindo os impactos e destacando os ganhos sociais.

A aproximação entre gestores públicos não pode ficar apenas em faixas da sociedade que lhes agradam, sendo assim, as chamadas bacias eleitorais onde o mesmo possui maior apreço e muito menos ou somente na aproximação de períodos de campanha eleitoral, o diálogo deve ser amplo e constante, de forma presente, para que o entendimento das necessidades sejam atendidas sem proporcionar nenhum dano ao demais envolvidos.

Estar presente, ouvir e ver para entender e na sequência, entender para atender.