NOVAS REGRAS DO BILHETE ÚNICO VALE TRANSPORTE PAULISTA: DECISÕES SUPERFICIAIS QUE NÃO PENSAM NO COLETIVO.

As mudanças na modalidade de Vale Transporte mudaram toda uma rotina desde o último reajuste no valor da passagem. Será mesmo que estas decisões foram pensadas em prol do coletivo?

As mudanças na modalidade Vale Transporte do Bilhete único da cidade de São Paulo entraram em vigor hoje para os usuários. Ao invés de 2 horas para até 4 integrações nos ônibus ou 3 ônibus e + 1 acesso aos trilhos com integração complementar tarifária, agora o usuário tem direito a 3 horas de integração mas com apenas 2 embarques em ônibus ou 2 horas para integração em 1 acesso aos trilhos e 1 ônibus com integração complementar tarifária. 

Além disso, o empregador que faz aquisição do bilhete único, está pagando R$ 0,27 centavos a mais para cada passagem adquirida para seu colaborador. Segundo o prefeito Bruno Covas, foi uma saída para que haja mais uma opção de financiar o caro transporte na cidade que cada vez mais, endividado com as viações operadoras das linhas. 

A decisão de cobrar um vale transporte mais caro que a tarifa comum não é exclusividade do município. Diversas cidades do entorno já realizam esta prática como Santo André e Mauá, no ABC Paulista. 

Mas o que leva uma cidade tão rica como São Paulo, querer jogar nas costas do empresário e do próprio povo, já sobrecarregados de impostos uma conta que particularmente, não é sua? 

Decisões rasas e de baixo fundamento, não alimentam questionamentos básicos, porém, com enormes conteúdos. 

Ao tomar a decisão de aumentar o tempo e retirar as quantidades de integração no vale transporte, o poder público teve a capacidade mínima de entender como funciona o relacionamento entre quem compra e usa o vale transporte? Sem contar, que vai na contra mão da política de seccionamentos que vem sendo proposta e que aumenta o número de embarques para determinados deslocamentos. 

Ao contrário das inúmeras propostas de plano diretor pífiamente falhos de querer gerar grandes polos empregadores próximos aos bairros, boa parte da população se desloca para outras regiões, principalmente a central, em busca de melhores empregos. 

Também é valido lembrar que existe empresas que no qual limitam o pagamento de apenas uma única condução ao colaborador. Eu mesmo trabalhei por quase 2 anos na região da Paulista e outros 2 na Faria Lima e entre comércios e escritórios, essa prática era bem comum. 

Limitação de pagamento do vale transporte, aliada a necessidade de algo melhor, seja pelo ambiente ou pelo salário, muitas vezes faz com que as pessoas gastem bem mais com que 2h da sua residência ao seu trabalho. 

Por outro lado, uma prática que vem ganhando espaço entre pequenas e médias empresas, é a questão das empresas optarem por pagar aos seus funcionários, ajuda de custo ao invés do vale transporte. Por mais que o empregador abra mão de tirar os 6% garantidos em lei para uso do vale transporte, em certos pontos, principalmente agora com essas mudanças no sistema, ele disponibiliza ao funcionário, o valor de seus deslocamentos e ele pode ir trabalhar como quiser. Seja de ônibus, carregando um bilhete comum (Agora que indica ser bem mais vantajoso), bancar o combustível do seu veículo ou até mesmo utilizar outros modais. O importante é chegar ao trabalho. 

Agora uma outra situação no qual vale ressaltar, é o custo que grandes empresas bancam para que terceirizadas (muitas vezes as mesmas que fazem o gerenciamento de vales alimentação e refeição) para que cuidem da gestão do vale transporte de seus colaboradores. 

Quando digo que decisões como essa são tomadas de maneira superficial, significa que foi tomada por quem parece não ter conhecimentos mínimos sobre um dos maiores sistemas de transporte sob pneus do mundo. Esta decisão ignorou todos os fatores citados acima, o que na minha opinião é um crime contra a coletividade. 

Atualmente, fica praticamente inviável bancar o vale transporte, que com as novas regras, serão facilmente trocados por ajuda de custo e sendo assim, o cidadão podendo escolher qual modal prefere se deslocar. Não é de todo mal, mas para um sistema que vem registrando quedas constantes no número de passageiros transportados, qualquer possibilidade que ofereça mais queda, é totalmente prejudicial… Sem contar, na possibilidade no aumento de carros na rua, elevando níveis de transito e médias de acidentes. 

Ônibus cada vez mais modernos, que proporcionam maior conforto aos usuários, parecem não ser mais atrativos, visto que os registros no transporte de pessoas seja cada vez mais baixo.

Ouvi dizer uma vez que se a pessoa não sabe escrever “Excelentíssimo” ela não pode ser chamada de um. Na mesma direção, se você, gestor público, não anda de ônibus ou não vivência um mínimo de transporte coletivo e que por falar em coletivo, não sabe levar em consideração, as diversas modalidades e situações, peço a gentileza de não tomar decisões que além de prejudicar as pessoas, podem causar transtornos bem maiores. Parem pelo amor da tua crença de tratarem as coisas pela superfície. O problema está bem mais em baixo do que imaginamos. 

Segundo diversas notas, a decisão é para reduzir o número de fraudes em cartões. Concordo que decisões contra fraudes devem ser tomadas e principalmente atualizadas, mas será que com um setor de fiscalização bem empenhado, aliado com as câmeras instaladas junto as catracas dos ônibus (Que dificilmente acredito que funciona) são capazes de inibir essa prática que tanto prejudica a sociedade? Já passou do horário de dar o exemplo e junto com alguma força de segurança, criar um setor ostensivo para inibir essas fraudes de maneira mais próxima e não apenas com a tecnologia obsoleta que permite fraudes de diversas formas. 

Também vale lembrar que a distribuição de gratuidades de maneira desenfreada e sem fiscalização durante gestões anteriores, que aliado as fraudes, aumentou e muito, o custo do sistema.  Com isso, é necessário criar alterativas de financiamento que não caia no custo final de quem deveria ser o maior beneficiado pelo transporte. Recentemente, a idéia da criação de um imposto para bancar o financiamento de redes de transporte, tem ganhado força e simboliza uma possibilidade dentre tantas outras existentes de ajudar a custear estes altos valores. 

Independente da solução, é melhor iniciar logo um debate para que seja possível implantar uma o mais breve possível. Do contrário, o colapso que era alguém desconhecido e que atualmente é apenas um vizinho, pode fazer parte da nossa rotina quando menos esperarmos.