INTEGRAÇÕES QUE VÃO ALÉM DAS CATRACAS.

Em uma época onde o acesso a informação é cada vez mais prática e precisa, porque o ônibus vem perdendo espaço diante da população?

O ônibus mesmo com enormes críticas e falhas em suas redes e sistemas, é o principal meio de locomoção da população em nosso país. Comprovado por pesquisas ou até mesmo observando as grandes cidades, podemos dizer que atualmente, mais da metade da população tem preferência pelo uso do modal. Em um passado não muito distante, esse número era bem superior e a concorrência, era bem menor. 

A história aponta o bonde como primórdio no deslocamento de grandes massas seguido dos caminhões adaptados, chamados de “Pau de arara” em boa parte do país. Com a expansão populacional ao longo dos anos e das décadas, a necessidade de se criar veículos adequados para o transporte tomou força. Nascia então, fruto da expansão de pessoas, o ônibus. Franzinos, de motorização fraca mas totalmente aceitos em sua época e certamente aplicados a suas necessidades, os ônibus além de ser o retrato da grandiosidade que tomaria as vias por onde passava, também é conhecido por levar o desenvolvimento aos bairros mais afastados de seus destinos finais. 

As cidades cresciam e com elas, o ônibus ganhava novas adaptações, formas e modelos que viesse a atender as demandas de suas linhas por onde circulavam. Com tal crescimento, a concorrência foi surgindo. Táxis, trilhos e outros modelos de transporte competiam com os ônibus para levar quem saia e voltava de suas casas para seus afazeres. Os centros, sempre bem servidos de linhas, devido concentrar a maior parte dos postos de trabalho, tinha uma realidade diferente dos bairros mais afastados que aos poucos, foi ganhando forma e a necessidade de melhores atendimentos pelo ônibus. Começava aqui, a participação popular pela melhoria nos transportes, que realizada por reuniões, abaixo assinados e até mesmo protestos, desenhavam uma nova era no transporte por ônibus dos bairros. A participação em décadas passadas era tão importante que a necessidade de ter estrutura igual ou parecida com a região central era nítida. Com isso, subcentros nasciam entre bairros e centro e com isso, terminais de ônibus que antes tinha o intuito para integrar regiões, passou a integrar também, bairros próximos. 

O tempo foi passando… carros ganhavam espaço nas ruas, as exigências foram aumentando e o passageiro começou a observar melhor seus meios de deslocamento e a prioridade era a rapidez. Aos poucos, a integração que antes era realizada somente dentro de terminais, tomou lugar pela facilidade em ser realizada em qualquer ponto da cidade com cartões magnéticos de transporte que com seus validadores e catracas eletrônicas, rompiam a barreira da integração obrigatória em poucos espaços. 

Aos poucos, a informática foi tomando espaço no transporte por ônibus. Além das catracas e validadores, considerados primórdios na evolução, acesso a informações e registros de reclamações e sugestões também ganharam suas facilidades. Atualmente, com a alta gama de aplicativos onde é possível saber em tempo real o posicionamento do ônibus em seu trajeto, horários, rotas e até mesmo saber a avaliação dos condutores e limpeza do carro facilitam a vida do usuário. 

É inevitável o reconhecimento da participação populacional na evolução do transporte por ônibus. Mas atualmente, onde está essa participação? Cada vez mais escassa, a participação popular mediante o transporte vem caindo dia após dia mesmo com ferramentas acessíveis que facilitam a exposição de ideias e opiniões sobre o assunto. 

Cena comum em eventos e exposições que promovem o transporte. Pessoas valorizando aquilo que nos move. Foto: Vander R. Moreti.

Não devemos apontar erros e nem culpados, mas é necessário criar ações que tragam os passageiros de volta a expor suas opiniões e sugestões de maneira a contribuir com uma sociedade onde o transporte por ônibus seja aceito e não apenas tolerado. Afinal de contas, é o passageiro principal causador e motivador do ônibus existir. E como toda lei comercial diz, é necessário ouvir o cliente para que possamos atende los bem hoje e saibamos se preparar para o futuro.

Nenhum gestor, por melhor e mais bem preparado que seja, conseguirá êxito em suas ações se não ouvir seus clientes, independente da área. A tecnologia por melhor que seja, pode facilitar muita coisa, mas o corpo a corpo jamais pode ser dispensado. 

Mesmo que poucos, ainda existem pessoas, movimentos, instituições e meios de comunicação capazes de mudar essa realidade e ajudar a trazer a população para expressar sua opinião diante de seus meios. Mas para isso, é necessário valorizar pessoas e instituições que estão a frente desta missão.

Eventos que fomentam o mercado como a Transpublico por exemplo, é de total importância para que as novidades cheguem com mais rapidez as empresas e que elas também se conversem. 

Eventos como a BusBrasil Fest que tem como principal missão mostrar a evolução do transporte e que chegou neste ano em sua 12 edição e que vem batendo recordes ano após ano também é de total importância para sociedade pois consegue integrar pessoas a empresas de maneira totalmente agregadora em um espaço didático e apto a promover um bate papo entre quem gere, conduz e usa o transporte.

Imagem aérea da 12 BBF que aconteceu no último dia 25 de novembro. 175 ônibus e mais de 15.000 participantes. Um novo recorde. Foto: Val Prado.

Do outro lado, temos blogs, pages, revistas especializadas e sites que buscam ênfase em noticiar o modal e que possui grande importância no alcance de mais pessoas com informações que são de grande valia para a população de diversos ângulos diferentes. 

Até mesmo um evento considerado simples, como o natal iluminado, onde veículos do sistema são decorados com a temática e realizam passeios gratuitos durante o final de semana por pontos estratégicos da cidade, possui uma força surreal de integrar pessoas e fazer com que exista a possibilidade de enxergar um outro lado quase nunca lembrado. O lado humano.

O casal Márcia e Roberto ao lado do pequeno Lucas de 4 anos que estiveram presentes no desfile de ônibus iluminados do último sábado  08/12 no ônibus da Alfa Rodobus. Foto: Fábio Trindade.

Todos os meios citados acima precisam de mais voz pois representam além de uma simples opinião de quem os redige. Em muitas vezes, representam uma massa que não consegue expressar seus sentimentos diante do que lhes move.

É necessário que órgãos gestores e principalmente as empresas prestadoras de serviço esteja cada vez mais próximas das pessoas. Dentro de associações de bairro, em seus principais pontos de demanda, dentro de seus próprios coletivos. Nunca houve tamanha necessidade de se criar ou melhor dizendo, ressuscitar departamentos de relações públicas para que o transporte se mantenha cada vez mais vivo. 

Se garantir o futuro com segurança é o melhor que podemos oferecer, vale lembrar que só ganha presente, quem se faz presente.