Ônibus da linha 396 que liga o Terminal Cotia ao Metrô Butantã, em SP.

É PRECISO DISCUTIR A MUNICIPALIZAÇÃO DE RODOVIAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO PARA BENEFÍCIO COLETIVO.

Rodovias saturadas com pouca ou quase nenhuma infraestrutura ou organização viária, prejudica diariamente o deslocamento de milhares de pessoas e a solução é priorizar o transporte coletivo para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Uma segunda feira ou um outro dia útil qualquer… 6h30 da manhã. Independentemente da região, o problema é o mesmo. O trânsito nas rodovias que ligam demais estados e regiões de São Paulo e que precisam cruzar municípios da região metropolitana para chegar a cidade de São Paulo.

GPS e Aplicativos de monitoramento de trânsito contam com o vermelho (cor que indica o alto índice de trânsito em seu nível máximo) de forma predominante nos mapas.

Com uma velocidade operacional baixíssima ou muitas vezes, parado por muito tempo sem sequer andar um único metro de pista por longos períodos, o resultado não poderia ser diferente, o stress já domina a vida de quem está em carros de passeio ou embarcado nos coletivos sem ou quase nenhuma prioridade que cruzam estas rodovias, ligando muitas vezes, cidades vizinhas ao metrô ou pontos de interesse.

Regis Bittencourt, Raposo Tavares, Anhanguera, Fernão Dias, Dutra, Anchieta… estas são as principais rodovias de escoamento de pessoas que utilizam o transporte coletivo por ônibus entre cidades da Região Metropolitana de São Paulo.

Menor custo para aquisição de um imóvel e ou qualidade de vida, faz com que pessoas migrem para cidades menores, mas não tão longe da capital. Mas estas cidades nem sempre oferecem a estrutura necessária para convívio e nem consegue ofertar empregos necessários para que seus residentes possam atuar profissionalmente próximo de suas casas, buscando assim, empregos em centros comerciais e ou financeiros em busca de melhores vagas na capital, transformando assim, cidades de entorno, em dormitórios.

Começa então, a peregrinação pelos deslocamentos entre Casa X Trabalho X Estudos realizados diariamente.

Além dos principais corredores de deslocamento entre cidades, algumas destas rodovias também integram bairros e regiões mais afastadas da cidade de São Paulo.

Caminhões que escoam produções ou movem as estradas com mercadorias necessárias para a sociedade, carros em excesso, motos ganhando cada vez mais espaço e o ônibus, cada vez mais espremido no cantinho de suas faixas de rolamento.

Não é preciso ir muito longe ou ser um grande especialista para saber que a prioridade da grande maioria daqueles que estão embarcados nos coletivos, era um deslocamento em menor tempo com o mínimo de conforto.

Faz muito tempo em que mesmo de forma tímida é debatida opções e possibilidades que tragam melhorias nestas vias, mas nenhuma delas com sucesso necessário para sair do papel.

Uma destas opções debatidas e que seria de maior coerência é a municipalização dos trechos urbanos de cada cidade com grande movimento, retirando a responsabilidade do estado ou federação destas rodovias e repassando as autoridades municipais que por sua vez, teria maior poder sobre a estrutura e organização viária de seus respectivos espaços.

A municipalização traria a liberdade de modificar planos viários que traria maior prioridade aos sentidos de movimento, liberdade na implantação de estrutura e organização viária e principalmente: criação de faixas e corredores de ônibus.

Mas porque priorizar o transporte coletivo?

Em primeiro lugar, cabe destacar o que sempre falamos por aqui: “O ônibus é responsável pelo deslocamento de grande parte dos Brasileiros e deve ter o seu espaço exclusivo.” Os benefícios são enormes. Além de proporcionar maior rapidez nos deslocamentos e integração com demais modais como metrô e trem a economia também se torna significativo numa sociedade que cada vez mais, paga caro pelo combustível que movem seus veículos. Os ganhos ambientais merecem destaque, pois menos carros nas ruas, menor emissão de poluentes, fora a segurança com a redução de risco de acidentes, e cabe ressaltar que os motoristas do transporte coletivo, são frequentemente treinados e acompanhados, além de se especializarem a cada norma e evolução de tecnologia vigente no mercado.

Não é difícil de encontrar linhas que efetuam até o dobro do tempo de viagem entre os horários de pico, onde possui maior movimento comparados ao entrepico, horários de menor movimento.

A pergunta que fica é: Será que não passou da hora de governantes e gestores públicos entenderem o quão positivo e benéfico para a sociedade e principalmente para a economia seria uma população com melhor qualidade de vida conquistada apenas com uma estrutura pública decente dedicada ao transporte coletivo por ônibus, resultando em menos tempo em seus deslocamentos?

A seguir, veja as rodovias, principais trechos urbanos dentro da região metropolitana de São Paulo, população média levando em conta a totalidade das cidades em caso de principal via e dos bairros adjacentes em caso de margamento das rodovias e demanda de passageiros médio por dia útil nestas vias com as atuais linhas em circulação, seja elas de serviços intermunicipais e municipais, com dados dos canais de transparência dos órgãos gestores responsáveis pela fiscalização e gerenciamento das redes de transporte por ônibus dos sistemas envolvidos (EMTU & SPTrans) e do IBGE, referente ao CENSO 2022.

ANCHIETA:
Uma das ligações com o litoral sul do estado e o porto de Santos, a Anchieta abrange cidades de: São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires, além de parte da zona sudeste da capital. São cerca de 1.300.000 habitantes e as linhas que trafegam pela rodovia, transportam cerca de 140.000 passageiros dia.

São Bernardo do Campo é uma das cidades que contam com longo trecho da Via Anchieta, uma das principais ligações entre a Região Metropolitana de SP com a Baixada Santista.
Foto: Fábio Trindade.

ANHANGUERA:
Conhecida pela ligação rápida com a região de Jundiaí & Campinas, A Anhanguera conta com uma das maiores extensões dentro da capital. São 26km na Zona Noroeste, além de abranger as cidades de Osasco (Parcial), Cajamar e Santana de Parnaíba. As principais cidades e os bairros ajacentes a rodovia contam com uma população de cerca de 1.200.000 habitantes e a demanda de linhas circulantes na via beira os 110.00 passageiros por dia/útil.

Anhanguera conta com um dos maiores trechos urbanos das rodovias que cortam a capital dentro da cidade de São Paulo.
Foto: Fábio Trindade.

DUTRA:
Principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, além do Vale do Paraíba, a via atende às cidades de Guarulhos, Arujá e Santa Isabel, além de parte da zona norte de São Paulo, mesmo que esta não possui linhas de sua municipalidade em circulação pela via. São cerca de 1.750.000 habitantes e uma demanda média de linhas que circulam pela rodovia de cerca de 220.000 pessoas por dia/útil.

Linhas intermunicipais que circulam na Via Dutra utilizam a Marginal Tietê para chegar aos seus destinos, como a região do Armênia e Tietê na cidade de São Paulo.
Foto: Fábio Trindade.

FERNÃO DIAS:
A rodovia liga São Paulo até Minas Gerais, é a principal ligação da capital com as cidades de Atibaia e Bragança Paulista, atendendo parte da Zona norte da cidade e parte da cidade de Guarulhos e é o principal meio de deslocamento da cidade de Mairiporã. São cerca de 500.000 habitantes, grande parte delas em bairros da capital e de Guarulhos que margeiam a rodovia e as linhas em circulação pela via contam com uma demanda média de 35.000 pessoas por dia.

Ônibus da linha 042 – Mairiporã (Divisa Atibaia) X SP (Terminal Tietê), operada pela ETM – Empresa de Transportes Mairiporã. Uma das principais ligações da Rodovia Fernão Dias e da cidade de Mairiporã com a capital, seu trajeto programado pode variar entre 1h40 até 2h20 cada meia viagem.
Foto: Fábio Trindade.

RAPOSO TAVARES:
Importante rodovia que liga a cidade de São Paulo ao interior oeste do estado até a divisa com o estado do Mato Grosso do Sul, a rodovia também liga as cidades de: Cotia, Vargem Grande Paulista e parte de Osasco, além de um trecho de 19km que margeia bairros da capital. Somadas, são mais de 1.100.000 de habitantes. As Linhas intermunicipais e municipais que atendem estes trechos da rodovia transportam cerca de 200.000 pessoas por dia/útil.

Ônibus Bi Articulado em testes pela Viação Raposo Tavares no ano de 2016 destacava em sua pintura os benefícios do transporte coletivo e o pedido de faixa exclusiva em uma das vias mais congestionadas da Região Metropolitana de São Paulo.
Foto: Fábio Trindade.

REGIS BITTENCOURT:
Principal via entre São Paulo com a região sul do país, a rodovia é a principal ligação entre as cidades de: Juquitiba, São Lourenço da Serra, Itapecerica da Serra, Embu das Artes e Taboão da Serra com as regiões oeste e parte da zona sul da cidade de São Paulo. Somadas, estas cidades contam com quase 900.000 habitantes e as linhas intermunicipais e municipais que também trafegam pela rodovia, transportam diariamente, cerca de 200.000 pessoas. A via não possui trecho dentro da cidade de São Paulo. Além disso, é a única com a possibilidade de contar com trecho municipalizado na cidade de Taboão da Serra, mas que não cita nenhum projeto que ofereça prioridade ao transporte coletivo por ônibus.

Rodovia Régis Bittencourt conta com um dos eixos mais longos dentro das cidades pertencentes a Região Metropolitana de São Paulo e é um dos principais corredores de escoamento de pessoas por meio de ônibus dentre as vias citadas.
Foto: Fábio Trindade.

Apenas com os exemplos citados, usando dados disponibilizados pelos portais de transparência, quase 1 milhão de pessoas fazem uso dos ônibus por estas vias que poderiam ser melhor aproveitadas se dada a devida atenção ao transporte coletivo.

A municipalização traria facilidades na tomada de decisões de cada cidade, onde cada uma saberia como entender a sua individualidade e sendo assim, buscar a melhor situação para os gargalos locais… porém, não se retira o papel do estado e da federação em fomentar e claro, financiar obras que tragam benefícios em prol de toda a população.

O Transporte coletivo merece de coletividade entre poderes para que o maior número possível de pessoas seja beneficiadas. Quem está embarcado no ônibus é tão contribuinte quanto aqueles que estão em seus carros e por se tratar de uma maioria com menor espaço ocupado, também merece atenção e respeito.