70 Anos de Trólebus em SP: Temos algo a comemorar?

22 de Abril de 1949. Começava a primeira operação por Trólebus na maior cidade do país. Comandada pela CMTC (Cia. Municipal de Transporte Coletivo) ligando a Aclimação a Praça João Mendes, na região central da cidade, com aproximadamente 7km de extensão, substituindo os antigos bondes.

Apesar do início dos serviços serem no ano de 1949, impulsionado pela escassez e alto custo dos combustíveis, os primeiros veículos, importados dos Estados Unidos e Inglaterra, chegaram aqui por volta de 1947, dando indícios das dificuldades que o modal encontraria futuramente para se manter.

Apesar da dificuldade na importação de peças de reposição, necessárias para a manutenção dos veículos, na década de 60, a CMTC, começou a produzir seus próprios trolebus no complexo Santa Rita, reaproveitando e adaptando chassis a diesel que eram convertidos para tração elétrica.

Na década de 70, o audacioso plano SISTRAN que previa a ampliação da rede e uma operação de mais de 1200 veículos trólebus, nos quais, 450 seriam articulados, para uma rede de corredores exclusivos, com 450km de vias e 33 linhas. Marcas vencedoras da licitação para fornecimento dos veículos, como Scania e Ciferal chegaram a implantar adaptações em suas equipes e instalações para atender a demanda. Com a falta de verbas, a falência da encarroçadora Ciferal (logo depois a fábrica passou a ser comandada pelo Governo do Estado do RJ) e divergências políticas ao longo dos anos, o projeto não caminhou conforme planejado.

Na década de 80, com auxílio de verbas federais, novas linhas foram inauguradas, com destaque para as linhas 775T que ligava os bairros de Pinheiros até o Metrô Santa Cruz e a 6500, que ligava o Terminal Santo Amaro a Praça da Bandeira.

Na década de 90, com a privatização dos serviços de transporte, as empresas que assumiram a concessão e operação das garagens que detinham a operação por trólebus, teve sua reviravolta e o sistema chegou a marca de 590 veículos que eram operados em corredores importantes da cidade, como: Rio Branco, Santo Amaro, 9 de Julho, Paes de Barros, dentre outros. Ao final desta época, o Fura fila, atual expresso Tiradentes iniciava seus testes e sem muito sucesso, teria seu projeto engavetado ao longo do tempo.

Os anos 2000 foi marcado pela queda no sistema que por questões políticas, extinguiu a operação dos trólebus na zona sul e em parte da região central, mantendo apenas as atuais linhas operadas pela empresa Ambiental. que são elas:

2002/10 – Term. Pq. Dom Pedro X Term. Bandeira.

2100/10 – Term. Carrão X Pça. da Sé.

2290/10 – Term. São Mateus X Term. Pq. Dom Pedro.

3160/10 – Term. Vila Prudente X Term. Pq. Dom Pedro.

342M/10 – Term. São Mateus X Term. Penha.

4112/10 – Santa Margarida X Praça da República.

4113/10 – Gentil de Moura X Praça da República.

408A/10 – Machado de Assis X Cardoso de Almeida, linha que foi a primeira linha com operação de trólebus na cidade, como citada no começo da matéria. Atualmente leva esta denominação devido aos ajustes e modificações que teve em seu trajeto.

Divisor de águas em opiniões referente a determinadas operações, o trólebus deixa algo certo em sua trajetória: A de ser um transporte limpo, não poluente. Atualmente o mercado oferece mais opções, como veículos híbridos e movidos totalmente a baterias, sem a necessidade de alavancas para conexão a rede aérea.

Atualmente a rede de trólebus paulistana que possui 201 veículos, segundo o site da empresa ambiental, tem também, uma das remunerações mais caras do sistema.

Mas o que vamos apontar aqui, não é algo que causa transtornos apenas ao trólebus, mas sim, toda rede de transporte da cidade.

Algo não apenas criticado por especialistas, mas também, por quem está ligado ao setor e sabe lá fazer suas contas… a forma de remuneração está errada. Ano após ano, os bilhões, sempre reajustados de maneira positiva após os anos, destinados a custear o transporte não fecham a conta anual.

Sabemos que apenas os subsídios que vem de um orçamento cada vez mais deficitário em todas as áreas de atuação do poder público é necessário um imposto direto, que se não banque por completo, que seja um complemento massivo para não deixar as contas fecharem no vermelho. Incentivos fiscais e atuação direta além de expressiva para que o transporte por ônibus, seja lá pelo que for movido, continue vivendo. Pois atualmente, caminha para a UTI em estado não muito agradável.

Vale ressaltar que o Trolebus faz parte da história da cidade que possui um dos maiores sistemas de transporte sob pneus do mundo.

Atualmente, um ACF Brill, um dos primeiros trólebus a entrar em operação no sistema paulista é conservado pela SPTrans e fica exposto no museu dos transportes Gaetano Ferolla, idealizador do espaço.

Ano passado, em 2018, parte da equipe de organização da BusBrasil Fest (BBF) organizada pelo Site Portal do ônibus, intermediou com sucesso (e muito trabalho) a reforma de 2 modelos, dentre eles, 1 articulado que foi exposto em primeira mão na edição do evento daquele ano. O fato foi considerado de extrema importância para historiadores, admiradores e trabalhadores do ramo.

Trolebus articulado. Destaque no evento e ícone de sucesso na intermediação para reforma do veículo.

Os 70 anos devem ser comemorados devido ao sucesso da longevidade alcançada com tamanha importância para o sistema, mas é necessário abrirmos os olhos para encontrar alternativas e manter o sistema de transporte coletivo vivo, antes que seja tarde demais.