#QuemTeMove – Conheça Toninho, o instrutor da Metrópole Paulista Unidade Pinedo

Antônio Fernandes Lopes, 65 anos, Instrutor de treinamento da Viação Metrópole Paulista – Unidade Pinedo. Conheça um pouco mais sobre a histôria do Toninho, neste primeiro episódio do QUEM TE MOVE.

O Parceiros do Transporte tem a honra de anunciar a primeira série de reportagens especial do nosso site. O QUEM TE MOVE é um trabalho dedicado a mostrar um pouco da histôria de pessoas que movem o transporte coletivo, com o intuito de expandir a importância de funções e pessoas que muitas vezes, passam despercebidas ou até mesmo, as pessoas não sabem que existem. Seja bem vindo. Aproveite o conteúdo ao máximo.

Parceiros do Transporte: Como começou sua vida profissional?

Toninho: Comecei a trabalhar com 11 anos de idade. Fui motorista autonomo, dirigia caminhão, fazendo rotas entre São Paulo, Rio de Janeiro e algumas partes do Paraná durante 12 anos, até que em 1986, diante de toda instabilidade financeira que rondava o país, resolvi então, vender meu caminhão e entrar para o transporte coletivo.

Parceiros do Transporte: Conte para nós, um pouco desta trajetória no transporte coletivo.

Toninho: Comecei na CMTC em 04/09/1986. Trabalhei durante seis anos na linha 6089 que ligava o bairro de Engenheiro Marsilac a Santo Amaro. Linha tinha uma extensão de 39km cada meia viagem e por dia, realizava uma viagem e meia nesta linha. Com o final da CMTC, fui chamado por uma das sucessoras da CMTC, a Viação Jabaquara no dia 26/03/1994. A princípio, continuaria como motorista, mas como tinham a informação de que eu trabalhava com treinamento em auto escolas, acabei assumindo o posto de instrutor de treinamento. Realizei cursos que vão desde a parte teórica até a parte mecânica e me aperfeiçoei ainda mais na área. Com o fim da Jabaquara em 2001, passei a trabalhar com o Grupo Vip, mantendo o mesmo cargo e hoje, estou unidade Pinedo. Nossos treinamentos seguem um cronograma que é pré definido em conjunto com nossos coordenadores e gerentes. Nosso foco principal é o atendimento de qualidade a nossos clientes, situações adversas e campanhas diversas, como o Maio Amarelo, Dia internacional da Mulher e Meio ambiente, por exemplo.

Parceiros do Transporte: Como você enxerga a evolução do Transporte coletivo?

Toninho: Quando entrei na CMTC, ela tinha cerca de 4.300 ônibus. Assim como hoje, oferecia o que tinha de melhor e modernos para a época. Acompanhei a troca da companhia mista, no caso a CMTC para as empresas particulares e com isso, mudanças no fator de remuneração, evolução tecnológica, treinamentos… A adequação dos veículos para atender a grande demanda existente na época e claro, mão de obra qualificada. Os motoristas era exigido cursos de direção segura/defensiva e qualidade de atendimento ao cliente que juntos, possuia carga horária média de 16 horas. Nos preparamos então através de parcerias com o SEST\SENAT para aplicar estes cursos nas garagens. A abertura de portas a esquerda também foi algo revolucionário.

Parceiros do Transporte: Acredito que as portas a esquerda e os corredores são os mais recentes dentro as opções citadas como evolução do transporte. Como enxerga esse avanço?

Toninho: A questão dos corredores a esquerda proporcionou uma exclusividade ao ônibus. Diretamente, isso impacta na questão dos deslocamentos realizados por eles. Mas vale ressaltar que a medida, não aumentou a velocidade média dos veículos. A prioridade foi dar fluência aos ônibus nas vias para atender as pessoas que usam o transporte coletivo. Na época da CMTC. tivemos o piloto deste projeto que era o corredor que ligava o Terminal Santo Amaro ao Terminal Bandeira que pegava toda extensão das Avenidas Santo Amaro e 9 de Julho e possui 14.8km de extensão. Expandiram os corredores para outros bairros e tal, mas não com a mesma qualidade. E hoje, no lugar de corredores de ônibus, temos apenas faixas seletivas.

Parceiros do Transporte: E qual ou quais itens, merece destaque na questão de evolução?

Toninho: Acredito que os próprios veículos, seja em questão de tamanho para atender a demanda e necessidade do transporte, quanto as empresas que precisaram se modernizar para atender todas as exigências feitas pelos órgãos gestores. Fatores tecnológicos, ambientais e de organização são os de maior destaque. Antigamente, quando um ônibus quebrava, você tinha que ir até uma delegacia ou estabelecimento público ou ter umas 3 ou 4 fichas de ligação telefonica para contatar a empresa… hoje em dia, basta apenas clicar um botão no AVL (Computador de bordo) que a empresa fica sabendo na hora e já encaminha o socorro até o local da ocorrência. Outro item de destaque que vale ressaltar é a automatização. Antes, em uma jornada de 8h de trabalho, o motorista pisava em média, 4.000 na embreagem para trocar a marcha. Com a evolução, os veículos automáticos dispensou esse esforço.

Parceiros do Transporte: Se por um lado, com a evolução da tecnologia, foi possível reduzir o desgaste físico, por outro lado, podemos afirmar que aumentou desgaste emocional?

Toninho: A questão física foi beneficiada sem dúvidas por essa melhoria… temos uma carga horária mais flexibilizada sem comparada a antigamente. A questão emocional é necessário uma comparação que envolve não apenas a parte tecnológica, mas também, humana. Anos atrás, se trabalhava mais. Porém, não tinhamos a necessidade de ter muita coisa como temos hoje. Com isso, o acumulo de preocupações fora da função, acaba com que o lado psicológico fica mais fragilizado. Acredito que isso tenha contribuído bastante para esse desgaste, pois nem todos conseguem separar as situações. Não é a toa que a profissão está entre as 3 mais estressantes para se trabalhar.

Parceiros do Transporte: Com tanta tecnologia avançada na atualidade, não existe algo que possa ser considerado negativo para o sistema?

Toninho: Sim. Acredito que investiram primeiro na máquina para depois lembrar do ser humano e acredito que o certo era o inverso. O avanço da tecnologia é sempre favorável, desde que a opinião de quem vai usar seja levada em consideração para que as duas partes possam caminhar juntas. Com o avanço tecnológico e muitas exigências, a difusão de informação foi crescendo… não que seja ruim, mas muita informação, acaba confundindo a cabeça de quem está a frente da máquina. Na minha opinião, é necessário separar e divulgar aquilo que é realmente indispensável para as funções. Na época da CMTC por exemplo, podíamos parar o coletivo para embarque e desembarque em qualquer local. Agora, temos um horário específico para isso. Mas nem sempre o cliente entende isso.

Parceiros do Transporte: Se por um lado, o excesso de informações pode atrapalhar a operação, por outro, a falta de informação pode ser um prejudicial no relacionamento entre colaboradores e clientes?

Toninho: Sim. A informação tem que ser bem separada naquilo que se refere a profissão. Anos atrás, você não tinha a quantidade de campanhas que temos hoje, Um grande exemplo é o Maio Amarelo. As campanhas repassadas em treinamentos é uma prova de que as empresas, estão a todo momento, investindo e buscando fazer com que o colaborador, preste o melhor serviço possível. Precisamos de informações dimâmicas e diretas para o passageiro, para que ele saiba que existem regras a serem respeitadas e o porque disso.

Parceiros do Transporte: Ser motorista é um dom, um gosto ou as duas coisas juntos?

Toninho: Ser motorista é um dom. Mas tem algo que é necessário ser observado melhor pelas empresas que é a questão do comportamento. Hoje, não saber dirigir não é mais um problema. Pois se tiver o dom, essa pessoa consegue fazer gosto e com o gosto ele consegue com maior facilidade, conduzir qualquer maquina dessas. Por mais que o motorista tenha experiência, trabalhado com caminhões, quando ele vem para o ônibus ou troca de empresa, ele precisa ser readaptado a realidade do espaço. Estar transportando cargas, cortando rodovias, não tem nada a ver com estar na cidade, transportando pessoas. Se esse motorista tem um bom comportamento, ele se adapta facilmente as necessidades da profissão. O comportamento é muitas vezes, a dificuldade para manter profissionais nas empresas, pois herdam práticas que não são aplicadas a uma nova realidade. Costumo dizer que existe 3 tipos de motorista. O motorista que é exclusivo para o ônibus, o exclusivo para o caminhão e aquele que vai estar sempre desempregado, pois não sabe para qual lado vai e não se adapta a nenhuma realidade. É necessário entender o principal, que é fazer um serviço social, atendendo a população da melhor maneira possível. Se ele entender isso, ele não vai encontrar dificuldades para exercer a função.

Foto: Rafael Santos Silva

Parceiros do Transporte: Estamos em uma fase de conclusão do processo licitatório na cidade. Mas o que você espera do futuro do transporte?

Toninho: Ao meu ponto de vista, as empresas terão uma dificuldade muito grande, além da que já existe. A mão de obra de qualidade está cada vez mais escassa, principalmente de motoristas. Acho que as empresas devem repensar a questão das escolinhas de formação de condutores e motoristas. Buscar um maior controle para que a empresa saiba quem ela está colocando para exercer suas funções e levar consigo o nome da empresa. Por mais que a evolução tecnológica esteja sempre presente, ainda está longe de termos ônibus que sejam conduzidos sozinhos, realidade já possível em outros países. O serviço do ônibus não é para qualquer um. Primeiro você precisa gostar de pessoas, para depois saber onde melhor se encaixa dentro do sistema.’

BATE BOLA

Para finalizar, perguntas simples e respostas curtas sobre a vida do nosso entrevistado.

Parceiros do Transporte: O Toninho Profissional?

Toninho: Uma pessoa realizada.

Parceiros do Transporte: O Toninho família/pai?

Toninho: Um homem muito realizado.

Parceiros do Transporte: O Toninho do dia a dia?

Toninho: Um homem muito agradecido pela vida ter me cedido essa oportunidade de chegar até onde cheguei com 65 anos e realizar aquilo que mais gosto de fazer.

Parceiros do Transporte: O Toninho amanhã?

Toninho: Já está definido. O futuro a Deus pertence. Mas ter a certeza de que quando parar, tive um trabalho bem realizado, com êxito.

Parceiros do Transporte: Um Hobby?

Toninho: Pescar, passear de Jeep, minhas miniaturas…

Parceiros do Transporte: Uma paixão?

Toninho: Minha família em primeiro lugar e claro, carros antigos. E ser grato por ter chegado até aqui. Não é fácil passar por tudo que passei nas empresas de ônibus ao longo desse tempo todo. Comecei em 4 de Setembro de 86 na CMTC e estou aqui até hoje, nesta profissão que se passaram tantos e eu acabei ficando aqui. Até diria que sou um velinho teimoso.

Parceiros do Transporte: Um recado para as pessoas do transporte… seja quem usa ou trabalha nele.

Toninho: Se você gosta da sua profissão, se dedique a ela. Em qualquer que for a sua profissão, se dedique ao ser humano. Sempre o ser humano em primeiro lugar. Independente de saber se ele faça valer a pena ou não. Faça seu papel e seja você mesmo. Diga sempre o que as pessoas precisam ouvir, não o que elas querem. Esse é o caminho.

Mais do que só agradecer, nossa equipe parabeniza Toninho pelo excelente profissional que é. Seja pela sua conduta, pelo seu auxílio em formar profissionais de qualidade ao mercado nestes 25 anos atuando como instrutor de treinamento.

Obrigado Toninho. Você sem dúvida é uma pessoa que colabora para que o sistema de transporte coletivo seja melhor.