Opinião: Somos governados ou apenas fantoches do fracasso político de nosso país?

Decisões esdrúxulas de nossos governantes no tange a mobilidade urbana de pessoas, mostra que somos representados por gente totalmente despreparada junto ao poder público.

Não adianta negar: O Coronavírus dominou todas as estatísticas de saúde do nosso país. UTI´s lotadas, aumento continuo no número de óbitos são chocantes, mas não surpreendem. Porém, assustadores.

Mas calma. Vamos entender o porque não surpreender mas podem assustar?

Nosso sistema de saúde é falido. Dizer que o SUS é motivo de orgulho nacional é romantizar a pobreza. A pandemia escancarou para toda a sociedade (ou para aqueles que querem enxergar) que nossas estruturas hospitalares são as mais pífias possíveis. Enxergamos dia após dia, a quantidade total de leitos existentes em cada estado, é ridículo perto da necessidade das pessoas, mesmo em cenários diferentes do atual.

Não estou aqui para comparar a gravidade das doenças, mas para aqueles que se negam a enxergar o óbvio, temos que dizer que as pessoas já morriam nas filas dos hospitais ou pela ausência de estrutura antes da chegada do Covid19. Ou você acha que 2.46 leitos (dados de 2018) por cada 1000 habitantes é o suficiente em uma cidade como São Paulo? Cidade esse que segundo dados da Rede Nossa São Paulo, é menor que em 2006, quando havia 2.85 leitos para cada 1000 habitantes.

Engana se quem pensa que diante desta questão, a queda na média de leitos foi apenas pelo aumento populacional. Em 2006, segundo dados do mesmo instituto, a cidade tinha 31.234 leitos para 10.944.889 habitantes. Em 2018, data base dos últimos registros, eram 29.018 leitos para 11.753.659 habitantes. Ou seja, em pouco mais de 12 anos, ganhamos quase 2 milhões de novos habitantes e perdemos mais de 2.000 leitos.

Através destes dados, percebemos que a terra da “referência” retrocedeu naquilo que a constituição defende como itens básicos de estrutura mínima ao seu povo.

Agora vamos levar em questão, estados menos estruturados, como é o caso do Amazonas. O estado tem ganhado destaque midiático nos últimos dias diante da grande quantidade de casos do coronavírus. A capital Manaus, está colapsada. Ao todo, o estado tem apenas 6.788 leitos entre rede pública e privada de saúde. Com uma população atualmente na faixa dos 3.900.000 habitantes, Amazonas tem uma média de 0.57 leitos para cada 1.000 habitantes, levando em consideração até mesmo a rede privada. Estima se que apenas 12% dos municípios Amazonenses tenha leitos em seus aparelhos de saúde.

A grosso modo, pode parecer sem nexo comparar a cidade de São Paulo com o Estado todo do Amazonas, onde costumes, culturas e estruturas são totalmente diferentes. Mas não estamos aqui para falar destes itens e sim para debater a fragilidade dos sistemas de saúde de nosso país. Independente do lugar, a saúde é gerida de forma errada e mesquinha. A quantidade de leitos é apenas uma prova disso. A mesma luva que falta no Hospital das Clínicas em São Paulo, também falta no Nilton Lins, um dos hospitais de referência da capital Amazônica.

Ao que tudo indica, o isolamento é uma das formas mais eficazes de combater o vírus. Mas antes de falar sobre, vamos analisar o seguinte cenário. Brasil confirmou seu primeiro caso de Covid no dia 26 de Fevereiro, coincidentemente, após o encerramento do carnaval. 7 dias depois, havia 8 casos confirmados e 636 casos suspeitos. 14 dias depois, 60 confirmados e 930 suspeitos. Levando em consideração matérias em que dizem que o vírus leva até 14 dias para se manifestar no corpo humano, não seria o carnaval, um dos eventos para início do contágio em massa no nosso país, visto a quantidade de turistas que recebemos com estas festas? Deixo a questão em aberto, pois não sou profissional da área, mas acredito que vale o questionamento.

Passado todo este tempo, vamos analisar as mudanças impostas na mobilidade urbana da cidade de São Paulo, principal epicentro de transmissão do coronavírus no país. A quarentena e isolamento social teve início em 24 de Março, quase 1 mês após o surgimento do primeiro caso na cidade. No mesmo dia, a frota de ônibus foi adequada. Os horários praticados eram equivalentes aos de Domingo.

O resultado? Ônibus cheios e reclamações a perder de vista. Pequenos ajustes eram feitos, acrescentando veículos em linhas onde indicava maior necessidade. Nada parecia resolver. Neste momento, São Paulo registrava uma média de 25% da demanda que costumava registrar em dias comuns.

Cerca de um mês atrás, em entrevista ao vivo no Jornal Brasil Urgente da TV Bandeirantes, ao ser questionado pelo apresentador José Luiz Datena sobre a lotação dos ônibus, em especial na região do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, o então secretário disse que havia instruído empresas a não “lotarem” seus coletivos, pedindo para que o motorista solicitasse ao público, que aguardasse o próximo ônibus. Ainda indagado pelo apresentador sobre possíveis represálias da população perante ao ato, o mesmo disse que o profissional poderia ser até multado em caso de insistência. Neste momento, os gráficos de registros de isolamento no estado, era em média ou quando não, acima de 55%.

O registro de isolamento, questionável por diversos setores da sociedade, por utilizar o posicionamento de GPS dos celulares soava estranho. O quão longe eu deveria estar longe da minha casa para saber se fui contabilizado em um “quebra regra” do isolamento? Pesquisei e cheguei aos dados de que esta contabilidade é feita quando você se distancia 200mt de seu endereço. Pode parecer pouco ou muito, dependendo do seu ponto de vista. Me considero uma pessoa que mora cercado de comércios próximos. Mas calculando, percebi que ir até a padaria mais próxima, gasto 230mt. Para mim, perto. Para o estado, estou desrespeitando a quarentena. Só pra ir buscar pão. Imagina fazer um supermercado, sacolão ou até mesmo ir a farmácia que fica no mínimo mais uma centena de metros a frente?

As 2 primeiras ações de destaque totalmente falhas, era só o indício do caminho que acompanharia todo o processo das próximas decisões.

Pulando algumas etapas, vamos as decisões das últimas semanas. Na segunda feira (04 de Maio) a ideia foi bloquear Avenidas com o intuito de gerar trânsito e fazer com que as pessoas fiquem em casa. No conto de fadas da cabeça de quem tomou a decisão, São Paulo com certeza não tem trânsito. A realidade é que Paulistano está acostumado com o trânsito, não faz sentido o motivo da ação. E ai entendemos que quem está saindo de casa, não é em vão. O resultado dessa medida? Os indicadores do isolamento continuaram os mesmos só que desta vez, profissionais da saúde prejudicados em seus deslocamentos.

A medida durou até o dia seguinte, onde a obrigatoriedade do uso de máscaras já era válida e com isso, outra ideia de Girico (Coisas da minha mãe) estava a caminho. Assim como se bloquear vias, colocava em dúvida a inteligência da pasta na maior metrópole da América latina, imagina implantar um rodízio cujo a ideia é tirar cerca de 50% dos veículos de circulação. O rodízio em questão, permite a circulação de veículos com placa final par em dias pares e placas ímpares em dias ímpar.

O estado já noticiou que grande parte daqueles que se deslocam neste período, é em distâncias que caracterizam idas ao trabalho. Logo, não precisa de muito, apenas de meio neurônio para entender que grande parte dos carros estão levando pessoas para seus trabalhos. Tirar carros das ruas, não impede as pessoas de trabalharem. Elas vão migrar para o transporte coletivo em sua grande maioria.

A SPTrans, autarquia municipal responsável pela fiscalização e gerenciamento do transporte coletivo por ônibus na cidade de São Paulo, informou nas últimas horas, que cerca de 1000 ônibus serão inseridos nas ruas, afim de atender toda a demanda que pode subir com a implementação do rodízio.

A pergunta que qualquer especialista em saúde faria (acredito eu) e eu também mas apenas como mero curioso é: Onde é mais propício a contaminação? No carro, com 1 ou 2 pessoas ou no ônibus, com 30 a 40 pessoas? A principal medida não é evitar a aglomeração? Contraditório.

Aliás, contraditório não… podemos chamar de despreparo!

Desde o começo das praticas de isolamento social, muitos defendem a inserção de quantidade de ônibus que venha a atender com folga a quantidade de pessoas transportadas. São Paulo consegue fazer isso com uma certa folga, pois grande parte do valor que é repassado as empresas prestadoras de serviço, vem da prefeitura em verbas destinadas de forma fixa.

Seria então necessário um Lockdown para desacelerar a contaminação na cidade?

Se momentos drásticos, merecem medidas drásticas, como não conseguiram prever o aumento de casos diante da forma escancarada que estava nítida que as pessoas teriam necessidades que seriam supridas apenas fora de suas residências?

O estado falhou, e ficou refém da sua própria burocracia e erros estruturais, em especial, na educação.

O povo não consegue interpretar o que é um metro de distância de um para o outro em uma fila. E não adianta desenhar, como fizeram nos terminais demarcando o chão. As pessoas continuam uma perto da outra.

Foi necessário além de exigir o uso de máscaras, que na minha opinião, veio tardio demais, estabelecer multa para o descumprimento da regra. E quem não tem condições e continua com a necessidade de sair, como fica? O estado não promoveu nenhuma distribuição voluntária até aqui. Algumas promessas superficiais, mas nada concretizado. Não ao menos de forma impactante.

Deixando um pouco a questão da saúde de lado, e falando um pouco sobre o lado empresarial.

Vejo diversos empresários de diferentes ramos que estão parados devido a pandemia. Garanto que muitos, tem ciência de que sem saúde, nenhum CNPJ pode andar.

Mas é necessário entender que estávamos saindo de uma situação emergente recente. Nem todos tinham caixa o suficiente para suportar tal crise.

Se o estado quer que estes fiquem parados em casa, ajude – os a equilibrar seus caixas.

Ninguém quer esmola governamental, que lá na frente, isso será cobrado de forma quiçá duplicada, seja nos impostos ou taxações ridículas criadas de tempo em tempo.

São Paulo é o estado mais rico da federação. Fica aqui um apelo que deveria ser óbvio aos olhos dos governantes. Facilite o acesso ao crédito para que as pequenas empresas, que sustentam o estado, consiga sobreviver neste tempo. Parem de sacrificar o povo para manter o estado e sacrifiquem uma parte apenas do estado para que seja possível manter seu povo.

Tá na hora de depender menos de outros países e por mais problemas que temos, acreditar mais no nosso povo. Não podemos ficar refém do fornecimento de respiradores (Só um exemplo) do país (China) cujo se negligenciou a alertar o mundo do risco que o coronavírus levaria ao mundo.

Menos hipocrisia. Para cobrar algo, é necessário antes, oferecer o mínimo de condições para que isso seja respeitado.

Chega de gente despreparada a frente de pastas que são fundamentais para o avanço dos povos. Que isso seja tomado como ação o quanto antes, em tempo suficiente para que a sociedade não seja tomada por idiotas que acreditam representar as pessoas naquilo que eles sequer vivenciaram.