De elefante branco a uma das empresas mais importantes da região. Conheça Valter da Silva Bispo e a Auto Viação TransCap

Conheça um pouco mais sobre a empresa palco da cerimônia de comemoração de 3.500 novos ônibus na cidade de São Paulo na última gestão e seu diretor presidente.

A Equipe Parceiros do Transporte esteve presente na última sexta feira, 31 de Maio, na garagem da Auto Viação TransCap. O local foi escolhido para cerimônia de comemoração de 3.500 novos ônibus dentro das atuais exigências para operação do transporte coletivo na cidade de São Paulo. Também foram entregues 10 novos veículos a empresa que vão compor a frota em breve.

Aproveitando a oportunidade, nossa equipe entrevistou Valter da Silva Bispo, atual diretor presidente da empresa. Vamos conhecer um pouco de sua vida, sua trajetória e um pouco do que se faz estar a frente da engrenagem da Auto Viação TransCap.

Parceiros do Transporte: Quem foi Valter da Silva Bispo?

Valter: Cresci e vivo na periferia. Fui engraxate e vendedor de sorvete. Um semi analfabeto que pegava ônibus de Parelheiros até o vale do Anhangabaú para poder trabalhar. Quando sobrava alguma coisinha, fazia vaquinha com os amigos para poder acampar. Com o tempo, sonhava em ter minha pirua, meu ônibus. Comecei a trabalhar na região do Grajaú, mais precisamente no Parque Residencial Cocaia (bairro da zona sul da cidade) até que em 2000, conquistamos os alvarás temporários e então, os pirueiros da região formaram a CooperCap. operávamos linhas que as empresas não queriam e hoje, são os principais eixos de demanda dentro do bairro. Após isso, avançamos. Chegamos aqui (TransCap) com muita gente dizendo que havíamos pego um elefante branco. Um terreno totalmente abandonado e com uma operação cuja área não era interessante para ninguém. Foi aqui que nasceu a Unicoopers entre 2002 e 2003. Em parceria, transformamos o elefante branco em uma enorme estrutura para nossa operação. Hoje, falta espaço para nossas necessidades e estamos buscando ampliar nossas instalações.

Parceiros do Transporte: E atualmente, quem é Valter da Silva Bispo?

Valter: Hoje sou o Diretor presidente do elefante branco (risos) ops… da TransCap. Hoje contamos com mais de 300 veículos, distribuídos em 26 linhas que somadas, transportam mais de 140.000 clientes por dia. Cresci, estudei e me formei. Deixei de ser semi analfabeto para se formar em bacharel em Administração de Empresas. Também sou responsável pelos setores de aquisição e manutenção da empresa. Muito cheiro que incomoda os grandes, para mim faz parte do meu dia a dia. Mudei de casa e de carro, mas não minhas raízes e minhas concepções… continuo na periferia, mas agora, morando em Paraisópolis, lugar onde muitos não passam nem perto ou não vão porque acha perigoso, eu estou lá. Apesar disso, sinto falta da minha liberdade. Hoje o trabalho me consome. Não posso mais ir no bar do cabeção por exemplo. Sair para distrair, dançar, não posso. Se antes tinha um sonho de ter o meu próprio ônibus, hoje em dia eu não durmo mais. Dormi uma hora e meia apenas nesta noite, sinto falta de um tempo só meu.

Parceiros do Transporte: Para toda boa história de sucesso é preciso ter um começo trágico?

Valter: Estava explicando minha história para a comitiva. Fui engraxate no centro. Sabia o que era andar pendurado nos ônibus. Não tinha o primário (Assim era chamado o Ensino Fundamental antes) e hoje, além do meu bacharel, tenho hoje formação suficiente para auditar a empresa para as ISO´s 9001 e 14001. E na auditória que você conhece cada pedacinho da empresa, cada ponto, cada engrenagem, o que precisa ser refeito, melhorado… mas apesar disso, ainda somos muito marginalizados. Desde parte da mídia e até mesmo antigos empresários. Muitos vêem as cachaças que eu tomo, mas não vê os tombos que levei até aqui. Tô bem vestido mas é porque a gente tem que receber o prefeito e as autoridades, mas não mudei minhas raízes.

Parceiros do Transporte: Como o senhor enxerga a TransCap em relação as demais empresas do sistema?

Valter: Atualmente eu não conheço uma empresa com foco tão grande nas certificações exigidas como nós. Já temos a 9001 e 14001. Somos pioneiros na implantação da 39001 que será exigida pelos novos contratos e que trata da Segurança do trabalho e a 45001 da segurança no transporte. Mas acredito que o mais importante é o nome que conseguimos construir durante todo esse tempo. Não precisei trocar de nome para participar da licitação e nem estou devendo a união. Quem então era considerado bandido, parece que hoje não é mais.

Parceiros do Transporte: Na sua opinião, qual o diferencial da TransCap?

Valter: Além da nossa equipe que é comprometida com nossas ações, planos e metas, acredito que a tecnologia seja nossa aliada forte na busca constante pela melhoria dos serviços prestados. Hoje a garagem conta com controle de abastecimento, controle de pneus através de chip. Nosso check list trabalha em sincronia com os setores de manutenção, o que garante uma maior qualidade nos indicadores. Meus diretores são atualmente meus melhores amigos. São todos Ex pirueiros. Entendem do assunto… e com isso, ganhamos em experiência. Nosso time sabe o que faz. Quando um colaborador é contratado, ele é apresentado por todos os setores da empresa, para que assim, ele possa saber quem procurar na hora em que precisar, coisa que nas empresas grandes, não existe.

Parceiros do Transporte: E na rua, onde está a diferença?

Valter: Aqui, eu mesmo trabalho na questão da qualificação dos operadores. Por mais que atendemos uma área muito ampla, que vai desde Santo amaro, passando por Campo Limpo, Raposo Tavares e Paraisópolis chegando até a Lapa, buscamos adaptar a nossa operação com a realidade de cada trajeto. Cerca de duas vezes por ano, minha equipe vai para as ruas realizar pesquisa de satisfação. Pegamos os pontos mais críticos e trabalhamos em cima para melhorar a qualidade de nossos serviços. Investimos pesado em nossa renovação. Desde Dezembro, renovamos quase 30% da frota, chegando a 80 veículos inseridos na nossa empresa já com as novas exigências, que somados, chegam a 126 unidades. Costumo dizer que não temos passageiros, temos clientes. Passageiro é algo de passagem… o cliente está ali todos os dias e a TransCap sabe que precisa fazer um bom trabalho para que nosso cliente volte amanhã, sabemos que o que fideliza ele são coisas simples, como um bom dia por exemplo. Até mesmo manter o mesmo colaborador com o mesmo veículo e horário, faz com que as pessoas saiba quem ele é e isso ajuda a fidelizar, algo muito importante para nós.

Parceiros do Transporte: O senhor disse que seus atuais diretores são seus melhores amigos. Como é o relacionamento com eles e os demais componentes do corpo colaborativo da empresa?

Valter: E são. Nos conhecemos de longa data, passamos muito perrengue juntos. Tenho diretor que era cobrador. O diretor operacional, o Germano, era pirueiro comigo no Cocaia. Meu diretor financeiro era pirueiro aqui na M boi mirim… Não mudamos nada. Todos os coordenadores são ex cooperados e registrados. Atualmente temos cerca de 350 motoristas que também são ex cooperados e atuam como motoristas aqui na empresa.

Parceiros do Transporte: Sabemos que é um assunto complicado, mas o que o senhor espera do processo licitatório?

Valter: Antes de tudo, eu espero que ele seja concluído o quanto antes. É complicado, pois sem um contrato com garantias de tempo de serviço, fica difícil conseguir crédito no mercado e isso interfere diretamente no fator de renovação de frota por exemplo. Qualquer compra que realizamo hoje, tem um prazo mínimo de entrega de 5 meses. Temos que trabalhar totalmente alinhado com o tempo e as condições para não falhar.

Parceiros do Transporte: Onde o Valter se enxerga daqui alguns anos?

Valter: As pessoas me vêem de uma maneira diferente pelas conquistas que tive, mas não pratico isso, continuo vendo as pessoas como via antes. Muita gente diz que foi sorte… pode ter tido um pouco também, mas teve muito trabalho. Lidamos com os julgamentos, que muitas vezes vem da nossa própria família e sei que estar no comando de uma empresa de ônibus, muitas vezes é complicado, tem dias que 24 horas é pouco e eu não sei dizer se isso é bom ou ruim. Atualmente o salário de mais de 1000 pessoas depende de mim, sei que não posso fraquejar, mas não quero isso aqui para sempre. Não me vejo como grande ou mega empresário, isso aqui para mim é o suficiente, não quero mais do que isso, mas não quero isso para sempre. Hoje não tenho mais as amizades intensas, a liberdade de poder sair… daqui alguns anos, imagino ter a liberdade que tive quando era mais novo, poder viver e aproveitar a vida novamente.

Mais do que aproximar as pessoas e honrar nossos compromissos, temos também, o prazer de levar a você, nosso espectador, a possibilidade de conhecer um pouco da história de pessoas que ajudam a mover o transporte.

Agradecemos imensamente ao Sr. Valter e sua equipe por nos recepcionar de maneira tão calorosa e de nos emprestar um pouco de seu tempo, para contar um pouco de sua história. Que fique registrado aqui, o nosso simples, porém humilde, Muito Obrigado!